sábado, 9 de outubro de 2010

Você já ouviu falar em Psicologia Econômica?

Consolidada em diversos países da Europa, bem como nos Estados Unidos, Canadá, Israel, Nova Zelândia e Austrália, a Psicologia Econômica é uma área ainda incipiente no Brasil. O pioneirismo do assunto não está apenas na proposta de estudar a temática e adaptá-la à realidade do país, mas também no seu enfoque psicanalítico, novidade igualmente em produções internacionais. O objetivo é oferecer uma visão geral da área, a partir da análise do comportamento econômico dos indivíduos, tanto sob a ótica da Economia quanto da Psicologia, como foco sobre tomada de decisões. Essa interface surgiu a partir do questionamento sobre a eficiência das teorias econômicas tradicionais para explicar determinados fatos da realidade cotidiana, longe das fórmulas matemáticas e modelos teóricos normalmente desenvolvidos por economistas. Os estudos no campo da Psicologia Econômica só ganharam impulso no Brasil a partir desta década, apesar do histórico no país de sucessivos planos econômicos, mudanças de moeda, problemas com inflação, desemprego, previdência social, empreendedorismo, desconhecimento de conceitos econômicos, ausência do hábito da poupança e até os problemas mais individualizados, como o endividamento, a falta de preparo para evitar aplicações duvidosas e golpes na área econômico-financeira. Todas estas variáveis trouxeram implicações e tiveram efeitos sobre o comportamento econômico e social, sobretudo nas questões macroeconômicas. A Psicanálise surge para investigar o comportamento psíquico dos indivíduos na tomada de decisões por meio de análises de impulsos, operações e mecanismos psicológicos, tanto no âmbito da realidade psíquica como da realidade externa. O aprofundamento em uma temática como esta no país deverá provocar uma reflexão sobre a natureza da Psicologia Econômica que se deseja e de que se necessita no Brasil. O conteúdo apresentado aqui fará um mapeamento da produção brasileira para discutir possíveis contribuições à realidade econômica do país.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Ler, pensar e escrever

É sinal de inteligência e sabedoria falar pouco, falar bem e não falar mal de ninguém.

Contudo, calar-se é ainda mais importante, quando calar-se é dizer tudo.

Há quem se cale por não ter realmente nada para nos dizer, mas há também quem se cale por omissão, quando seria um dever falar, escrever, gritar, colocar a boca no trombone, como se dizia antigamente.

Calar-se na hora certa e pelos motivos certos é uma verdadeira arte cujas regras um pequeno livro do Abade Dinouart quer nos transmitir. Autor francês do século XVIII, suas admoestações para que façamos silêncio ainda hoje são pertinentes.

Sutileza não lhe falta. Ao mesmo tempo que recomenda o silêncio, lembra que há silêncios falsos, aqueles que simulam uma sabedoria que, de fato, inexiste. Nem sempre calar-se significa profundidade de pensamentos. Pelo contrário, é camada de verniz que recobre um vazio sepulcral.

Mas há ainda outros silêncios, e alguns deles diabólicos. Há o silêncio manipulador, o silêncio torturante, o silêncio chantagista, o silêncio rancoroso, o silêncio conivente, o silêncio da zombaria, o silêncio imbecil, o silêncio do desprezo. Há pessoas que matam com seu silêncio. Há silêncios que esmagam a justiça e a bondade, na calada da noite.

Por isso o silêncio rico de significado é ainda mais apreciável e luminoso.

Falo do silêncio que prenuncia novas palavras.

Falo do silêncio que é solidariedade na dor.

Falo do silêncio que soluciona cisões.

Falo do silêncio que pergunta.

Falo do silêncio que perdoa.

Falo do silêncio que ama.

O silêncio mais puro é aquele que guarda a confidência. Este silêncio jamais é excessivo. Não se deve apregoar aos quatro ventos o que foi murmurado na intimidade da amizade e do amor.

O silêncio mais sábio é aquele que fazemos diante dos impertinentes, intolerantes e desbocados. É o silêncio do Cristo inocente diante dos acusadores, o silêncio dos espaços infinitos diante da quase infinita capacidade nossa de falar ou escrever sem razão.

Calar da maneira certa é deixar que uma voz mais profunda seja ouvida. A voz severa, a voz serena, a voz suave e firme da verdade.

O verdadeiro silêncio diz a verdade que não se pode calar.

O verdadeiro silêncio nunca será cedo demais.

Quero ouvir o silêncio que tudo explica.

A arte de calar, Martins Fontes, 2001, 80 páginas

Artigo Publicado em Correio da Cidadania